Coisas de Humanos: Saiu meu primeiro conto (finalmente)

Saiu meu primeiro conto (finalmente)


Poderia estar escrevendo, mas a preguiça não deixa.
Sei que abandonei este blog às traças, e isso é algo que me incomoda um pouco, mas eu havia avisado que não sou muito... hã... contante com esse tipo de coisa. Mas tudo bem! Pra me redimir venho orgulhosamente apresentar meu primeiro conto. O primeiro que concebi e o primeiro que pus pra fora da minha cabeça bagunçada.


Talvez me livre da preguiça e da falta de organização do meu escasso tempo livre, e comece a publicar alguma coisa aqui de vez em quando.






SEM PERCEPÇÃO DE LUZ



“É necessário certo grau de cegueira para poder enxergar determinadas coisas.”

Clarice Lispector



Nunca pensei em me tornar modelo, na verdade não tive nem tempo para isso. A coisa aconteceu totalmente sem querer. Fui descoberta por acaso no dia em que minha prima foi fazer um teste para uma agencia famosa. Lembro exatamente do dia: haviam várias meninas nervosas com mães a tira colo mais nervosas ainda – exatamente como minha tia e minha prima – e eu alheia a tudo aquilo, pois estava concentrada demais decidindo o sabor do sorvete que iria pedir depois. Nessa época eu estava passando uns dias na casa da minha tia enquanto minha mãe participava de um dos vários seminários educacionais. Fui convencida a ir à seleção e me “comportar direitinho” em troca de um sorvete. Aceitei na hora.


Eu tinha apenas seis anos e era uma verdadeira pestinha. Preferia brincar na rua com os moleques do que brincar de boneca com minhas amiguinhas, adorava imitar as pessoas e era facilmente induzida a fazer qualquer coisa em troca de sorvete. E foi justamente fazendo uma das minhas coisas favoritas que dei o primeiro passo na minha carreira de modelo. Enquanto esperávamos a vez da minha prima ser chamada, vi algumas meninas ensaiando o desfilar enquanto as mães faziam correções na postura, no jeito de olhar, na largura das passadas, etc. Então virei para a minha tia e falei em tom debochado:
- Olha, eu sou a Julie (nome da minha prima).
E comecei a imitar os desfiles que minha prima fazia em casa.


A seleção era apenas para garotas com idade a partir dos 12 anos, o que fazia de mim a menor menina naquela sala por isso, todos ficaram sorrindo e dizendo coisas como: “que bonitinha” ou “oh, que fofura” e coisas do gênero, coisa que normalmente me deixaria profundamente irritada, porém estava tão satisfeita em ver minha prima furiosa que nem me importei. Inclusive me sentei de forma graciosa, fazendo carinhas e sorrisinhos. Só então reparei no avaliado parado na porta me olhando e sorrindo. Suguei as bochechas entre os dentes para forçar os lábios a fazerem um biquinho e mandei meu olhar estrábico do qual tanto me orgulhava. Ele retribuiu a careta, deu uma espiada em uma prancheta e chamou uma das meninas. A menina estava com cara de que iria chorar a qualquer momento, e caso isso acontecesse, eu estava pronta para zombar dela.


Quando finalmente chegou a vez da minha prima entrar, já estava ficando aborrecida. Entramos e os avaliadores ficaram cochichando entre si e olhando para mim, só veio um pensamento na minha mente nessa hora: “quem cochicha, o rabo espicha” e me senti satisfeita com isso. Como a seleção foi feita em uma escola de dança, havia uma parede de espelhos e fiquei imaginando que aquele seria um ótimo lugar para treinar novas caretas. Sentamos em frente à mesa dos avaliadores, eles pediram para ver o book da minha prima e ficaram fazendo uma série de perguntas, enquanto eu estava virada para os espelhos ensaiando algumas caretas novas.


Minha prima desfilou e voltou para a mesa para mais conversa. A essa altura eu já estava com a cara quase colada em frente a um dos espelhos, contorcendo meu rosto com as mãos e fazendo uns barulhos que ninguém imaginaria que uma menininha loirinha, de olhos verdes e bochechas rosadas poderia fazer. Nessa hora minha tia se virou para mim e me repreendeu:
- Ana, fica aqui quietinha ou não vai ganhar sorvete.
A possibilidade de não ganhar meu sonhado sorvete me transformou instantaneamente de monstrinho barulhento em anjinho comportado. O avaliador que havia visto minha performance me perguntou:
- Ana, que tal você desfilar pra gente como você estava fazendo antes?
Imediatamente virei para minha tia e perguntei:
- Vou ganhar mais um sorvete?
- Vai sim querida. – disse minha tia com um sorriso constrangido no rosto – Mas vai ter que fazer direitinho pra ganhar.
- Êba, êba, êbaaa. – exclamei enquanto pulava euforicamente até onde o desfile seria executado.


Como estava valendo mais um sorvete, fiz tudo exatamente como minha tia havia ensinado para minha prima. Quando terminei, voltei para minha cadeira enquanto minha tia conversava com os avaliadores. Percebi que estavam falando de mim, mas não ouvi uma palavra sequer, estava muito concentrada fazendo planos sobre meu segundo sorvete.


Alguns dias depois minha mãe recebeu uma ligação da agencia e após pouco tempo eu já estava desfilando, fazendo fotografias e até participei de um comercial de chocolate na TV. Sempre acompanhada pela minha tia e minha prima que também havia sido contratada. Desta forma fui seguindo com minha carreira de uma forma natural, porém muito rápida e aos 19 anos já estava fazendo desfiles internacionais.


O dia que mudou tudo na minha vida parecia mais um dia rotineiro (como não poderia deixar de ser). Não houve nenhum presságio de mau agouro ou sensação ruim percorrendo o meu corpo, nem nada do tipo. Estávamos morando em 5 meninas – todas modelos – em um apartamento próximo do centro de Madri, e naquele dia passamos a tarde inteira fofocando, escolhendo roupas e nos arrumando para uma festa. A caminho da festa fiquei resmungando o tempo todo, pois tive que sentar no meio do banco traseiro e meu vestido ficava subindo o tempo todo. Como não queria amassar o vestido, nem cogitei usar cinto de segurança. Porém nosso carro bateu de frente com o carro de um homem que estava sendo perseguido pela polícia. Com o impacto, fui arremessada para fora do carro através do para-brisas. Acordei duas semanas depois em um hospital de Madri.
Sofri fraturas múltiplas no braço esquerdo e no rosto. Cortes em vário locais especialmente no rosto. E perdi parte dos movimentos do meu braço esquerdo e o olho esquerdo.
Meu rosto ficou desfigurado, pois além de cicatrizes as fraturas mudaram o formato do rosto. Eu quase não conseguia me reconhecer no espelho.


Me submeti a varias cirurgias para tentar restaurar meu rosto, mas foi tudo em vão. Gastei todo o meu dinheiro e um pouco do dinheiro da minha mãe para recuperar a beleza e posso dizer sem medo que foi o pior período da minha vida. Com o acidente perdi minha beleza, parte dos movimentos do braço esquerdo, um olho e a vontade de viver.
Acabei desistindo completamente das cirurgias depois de algum tempo. e fui procurar um emprego. Só havia trabalhado como modelo e não sabia fazer nada além disso, então uma amiga da minha mãe ofereceu um emprego em sua facção de costura, auxiliando as costureiras. Não gostava daquele trabalho, mas era melhor que ficar em casa chorando na frente do espelho e precisava do dinheiro.


Nessa época eu procurava me esconder de todos. Só saía de casa se fosse necessário e passava minhas noites e finais de semana assistindo filmes ou lendo livros. Minha mãe sempre tentava me fazer sair e até fez algumas festinhas em casa, nas quais eu mal aparecia. Sentia muita pena de mim mesma e estava constantemente triste ou mal humorada. Usava uma franja comprida sobre o lado esquerdo, para esconder as cicatrizes e onde costumava ficar meu olho esquerdo.


Um dia esperando o ônibus para voltar para casa do trabalho, ouvi um estrondo e quando olhei para o lado, havia um rapaz sentado no chão esfregando a testa e xingando baixinho. Era sábado e estávamos só nós dois no ponto de ônibus. Enquanto me perguntava como o rapaz poderia ter acertado o orelhão daquela forma, reparei que ele procurava algo tateando o chão. Só me dei conta de que ele era cego ao reparar nos óculos e na bengala estendidos no chão.
- Tudo bem com você? - perguntei enquanto lhe entregava os óculos.
- Tudo! Mas acho que vou ficar com um galo depois dessa
- Já está crescendo – falei tentando não rir
- É verdade – disse enquanto alisava a testa – malditos orelhões...
- Isso acontece muito?
- Mais do que você imagina. Prazer, meu nome é Diego - E estendeu a mão, errando por pouco a direção que eu estava.
- Ana - Apertei sua mão um pouco sem jeito
- Então Ana, você pode me fazer um favorzinho? Me avise quando o ônibus da linha 126 estiver vindo? - falou esboçando um sorriso de súplica
Tudo bem respondi – era a mesma linha que eu pegava, mas não comentei isso. - Só por curiosidade, como você faz pra pegar o ônibus certo quando não tem ninguém no ponto?
- Eu paro todos e pergunto qual é a linha.
Rimos
Então ele começou a tagarelar sobre como não gostava do seu antigo trabalho, sobre como este novo trabalho é propício para seus novos objetivos. Que mesmo com um salário menor, o benefício futuro compensaria. Que mora na cidade vizinha e pega essa linha somente até onde um amigo trabalha e então seguem de carro. Que está fazendo especializações em sua área. Que este emprego de vigia é a melhor coisa que lhe aconteceu... “Hã?! Como assim vigia? “ interrompi sem cerimônia. Ele sorriu e respondeu “Brincadeirinha. Mas que bom que você ainda tá aí. Tava tão quietinha que achei que tinha saído de fininho?” Fiquei indignada e disse em tom incrédulo “Como se alguém fosse fazer uma coisa dessas!” “Acontece mais do que você imagina” “Tá, então daí tu fica lá...” “Falando sozinho, isso mesmo.” Completou. Então rimos alto. Quando paramos de rir percebi que me sentia à vontade com ele. Talvez por ele não conseguir ver meu rosto deformado, talvez por ele parecer ser um cara legal, talvez tudo isso, mas não importava. O ônibus chegou e continuamos a conversar até o terminal onde o seu amigo o esperava. quando nos despedimos com um “Até segunda”, senti um nó na garganta. Havia me esquecido como era bom conversar com alguém que não fica dando relances e desviando os olhos do meu rosto.


Na segunda-feira de manhã, quando cheguei no terminal rodoviário ele já estava lá, de pé com sua bengala e seus óculos escuros. Parei um pouco atrás dele e fiquei discutindo comigo mesma se iria ou não falar com ele. Decidi que sim no momento em que o ônibus chegou. Me aproximei e disse “O 126 chegou.” Ele virou um pouco o rosto na minha direção e perguntou “Ana?” Pensei em não responder, pensei em fugir e deixar ele falando sozinho, mas me forcei a responder com um tom alegre “Eu mesma, tudo bem?” “Puxa, nem te vi aí!” Rimos, auxiliei ele a entrar no ônibus e iniciamos nossa conversa, porém dessa vez tentei participar mais. Seguimos nossos dias dessa forma por bastante tempo, ele sempre me fazia rir e me sentir à vontade. Ele acabou se tornando meu único amigo, pois nunca me dei muito bem com o pessoal da facção, e quando lhe pedi se ele havia nascido cego, ele me respondeu que ficou cego depois de um acidente de carro alguns anos atrás. Fiquei aliviada ao perceber que ele não queria falar sobre isso, pois pude aproveitar para nem mencionar o meu acidente. A única coisa nele que as vezes me incomodava era seus olhos, pois ou estavam voltados para cima ou estavam desfocados para uma direção qualquer. Mas não demorou muito para me acostumar com isso, além de que ele geralmente estava usando óculos escuros.


Com o passar do tempo, começamos a nos encontrar em alguns finais de semana. Isso me forçava a sair de casa, pois ele não podia assistir filmes e só de imaginar minha mãe bajulando ele e contando minhas histórias constrangedoras de infância, eu já me sentia motivada a enfrentar os olhares esquivos das pessoas (o que não adiantou muito, pois mais tarde minha mãe teve várias chances de me fazer passar vergonha e aproveitou todas).


Estávamos juntos quase o tempo todo, então não foi surpresa quando acabamos namorando. Porém uma surpresa enorme me esperava no dia em que voltando do trabalho, encontrei o carro do amigo de Diego parado na frente de casa. Diego não estava comigo pois aquele sábado era sua folga e quando vi que ele também não estava no carro fiquei preocupada. O amigo de Diego me entregou um bilhete que dizia para eu entrar em casa, tomar banho e usar o vestido que estaria em cima da minha cama. Depois disso eu seria conduzida para um salão de beleza e mais tarde para um local secreto. Segundo o bilhete de Diego, isso fazia parte do presente surpresa de um ano de namoro. Fiquei abobalhada, mas segui todas as instruções. O tal lugar misterioso era um salão de uma sociedade, no topo de um morro com vista para a cidade. Quase todas paredes eram de vidro, o que proporcionava uma vista deslumbrante. O salão estava vazio exceto por uma mesa bem próxima à parede de vidro principal, e estava iluminado apenas pelas luzes da cidade abaixo e pelas velas em cima da mesa. Diego estava em pé ao lado da mesa vestido de terno e gravata, e sorriu ao me ouvir entrar no salão. Quando estava quase chegando na mesa ele disse: “Caramba, como você tá linda”. Só consegui responder com um riso meio estrangulado e um “Bobo” com a voz empastada, pois estava à beira das lágrimas. Achei que fosse desmaiar quando ele segurou minhas mãos e se ajoelhou na minha frente, tirou os óculo e disse: “Quero fazer isso olhando nos teu olhos. Ana Cristina Miranda, você aceita casar comigo?”. Nesse momento tive uma das piores sensações da minha vida, um misto de susto e medo. Não pelo que ele havia acabado de dizer, mas pelo jeito que ele olhava para mim. Seus olhos não estavam virados pra cima ou desfocado ou até indo de um lado pro outro, estavam fixos nos meu olhos! Ele estava conseguindo enxergar? Só consegui balbuciar um: “teus olhos...” tão fraco que quase nem ouvi. Então ele levantou dizendo que nunca havia ficado cego, que inventou toda a história de ser cego pra conseguir se aproximar de mim e que me amava mais do que tudo no mundo. Segurei seu rosto com força entre minhas mão e comecei a beijá-lo repetidas vezes, entre cada beijo dizia: “Aceito! Aceito! Aceito!”. Fizemos amor ali mesmo em cima da mesa e vivemos felizes para sempre...


… pelo menos é o que eu gostaria que tivesse acontecido.


Ele começou a falar desesperadamente que nunca havia sido cego, sua voz estava um pouco esganiçada e ele falava muito rápido. Eu só conseguia pensar que ele me enganou todo esse tempo, só conseguia me sentir estúpida e traída. Não conseguia falar, estava atordoada demais. Quando ele tentou segurar minhas mãos, me desvincilhei com violência. Ele parecia uma pessoa totalmente diferente, não era o Diego q eu conhecia que se movia devagar e com suavidade para não esbarrar nas coisas. Esse... cara que estava na minha frente era outra pessoa, com o mesmo rosto, o mesmo corpo, a mesma voz mas uma pessoa totalmente estranha pra mim.
Ele falava sem parar enquanto eu andava de um lado para o outro com as mãos na cabeça, e eu ouvia tudo o que ele dizia, mas parecia que estava ouvindo um diálogo de um filme vindo de uma televisão em outro cômodo. Até que uma frase me trouxe de volta: “...e eu fiz tudo isso por você!”. Essa frase varreu toda confusão e espanto, preenchendo todo o meu ser com raiva. “Como assim fez tudo por mim? - respondi com uma voz que não parecia a minha- você fez tudo isso por você mesmo! Pensando em você, pensando em me conquistar e com isso conseguir o que você sempre quis!” gritava entre soluços. Ele também estava chorando e respondeu “Mas você mesma disse que eu fui uma das melhores coisas na tua vida, que você estava infeliz e que não queria continuar daq...” “Mas eu não sabia que era tudo mentira!” gritei pausadamente, entoando cada palavra, preenchendo cada palavra com todo peso que pude. E continuei “Eu nunca mais quero te ver na minha frente! Nunca mais!”. Dei meia volta para ir embora e ele veio na minha direção e me abraçou. Quando me livrei do abraço e me virei, pude ver que ele estava preparado para levar um tapa, mas pela sua reação posso afirmar que não esperava um soco no olho. Saí gritando de raiva, frustração e dor na mão.


Essa foi a última vez que falei com ele.


Rejeitei qualquer tipo de contato por parte dele. Solicitei minhas férias para não ter que encontrá-lo no caminho para o trabalho e fui para a casa dos meus avós por alguns dias. Estava muito magoada por ter sido enganada todo esse tempo. Como ele pôde? E eu sempre dizia o quanto odeio mentiras e falsidade. Fui feita de idiota! Fui humilhada! Como eu pude ter sido tão... cega?!


Quando voltei para casa, minha mãe me contou que ele foi até lá e eles tiveram uma conversa. Ele havia dito que não iria mais me procurar. Iria fazer um intercâmbio para a Austrália. Ia ficar o mais longe possível, em parte para respeitar minha decisão, mas principalmente porque ele estava muito magoado comigo, com as coisas que disse e fiz. “Como assim magoado?! Fui eu que fui enganada! Quem ele pensa...” já ia dizendo toda alterada quando fui interrompida pela minha mãe: “Ok, ele mentiu! Certo, ele te enganou! Mas para e pensa, se fosse de outra forma você iria deixar ele se aproximar de você? você vivia fugindo das pessoas. Vivia se escondendo pelos cantos. Esse rapaz foi a melhor coisa que te aconteceu depois do acidente!”. Fiquei abobalhada. Minha própria mãe estava contra mim! Fiquei com a boca aberta gaguejando, tentando falar: falar que isso era injustiça, que ele é um canalha, que ela tinha que estar me defendendo e não a ele, que eu não queria admitir que tudo não passou de um faz de conta... Isso era o que me deixava mais revoltada. Com a mentira, ele profanava o período mais feliz dos meus últimos anos. É como se ao final de um jantar maravilhoso, você descobrisse que os pratos foram preparados com ingredientes nojentos.


Com o tempo (muito tempo) consegui perdoar Diego por ter me enganado. Consegui perceber todo o bem que ele me fez. Melhorou minha autoestima, me trouxe confiança e acima de tudo, me tirou da minha rotina autodestrutiva de ficar me escondendo pelos cantos. Jamais poderia voltar a confiar nele, mas estava grata por tudo o que ele fez por mim. Decidi que iria usar tudo o que passei a meu favor. Descobri que o termo clínico para a cegueira completa é NLP, uma abreviação para "no light perception" (sem percepção de luz em Inglês) e isso me fez ver que na verdade eu era a cega da história, pois não conseguia mais perceber a luz do mundo. Nem a minha própria luz.


Fui mudando de atitude aos poucos. Comecei a cuidar de mim, voltei a estudar e mudei de trabalho. E com o passar do tempo as coisas se encaixaram sozinhas. Conheci várias pessoas, fiz amigos, fui magoada novamente, mudei de emprego novamente, voltei a viajar sempre que podia, conheci alguém especial, namoramos, casamos e até o momento estamos segurando muito bem as pontas. Só terminamos e reatamos três vezes, uma média louvável se levar em consideração o gênio terrível dele (hum, acho que depois dessa revelação o número vai subir para quatro. Hehe). E se as previsões estiverem corretas, em 4 meses a pequena Themis estará conosco.


Depois que a poeira baixa é fácil analisar as coisas. Porém nada vai mudar se você não aprender a perdoar a si mesma antes de tudo.
Este texto nada mais é que um tratado de paz comigo mesma para ser lido e relembrado sempre que esta trégua estiver ameaçada.


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