Coisas de Humanos: Morreu o Osama!

Morreu o Osama!



Não caro leitor, não será um post sobre minha opinião da morte do segundo cara mais procurado no mundo (perde pro Wally), até porque como um fã dos protestos amalucado de Michael Moore, minha opinião pode ter sido afetada por alguma de suas teorias mais loucas que o Bozo. Falarei sobra algo que aconteceu comigo há muito tempo atrás, afinal este é o meu blog.

Cara, parece que foi ontem, mas já fazem 10 anos do dia em que levei um dos maiores cagassos de minha vida: o fatídico 11 de setembro.

Nessa época eu trabalhava na produção de uma metalúrgica, no horário das 05:00 às 13:30, e no meio do expediente apareceram algum peões em pânico anunciando o apocalipse: “Atacaram os Estados Unidos. Vai explodir a terceira gerra mundial!” . Mantive-me impassível diante do anúncio do final do mundo, pensando com meu capacete vermelho: “Carai, deve ter caído um avião num acidente e esses malucos já acham que vai voar míssil nuclear pra tudo quanto é lado...”, e continuei minha labuta como se nada de extraordinário havia acontecido.

Ao chegar em casa quase duas horas da tarde, peguei o prato com os restos do almoço que minha mãe generosamente deixava na geladeira e meti no microondas pra dar uma esquentadinha, enquanto isso liguei a TV pra ver o quanto os peões haviam exagerado e me deparo com isso.

Fodeo, foi tudo que consegui pensar.

Confesso que fiquei chocado, isso realmente poderia desencadear uma guerra, ainda mais com um maluco no poder como George Bush. Mas felizmente qualquer previsão apocalíptica estava errada.

Enquanto destroçava com voracidade os pedaços de frango de panela feitos com amor por dona Fátima e ficava chocado com os detalhes da atrocidade ocorrida lá na terra do tio Sam, ouvi alguém bater palmas e soltar o chamamento clássico: Ô de casa. Fui verificar enquanto limpava a boca cheia de gordura na manga da camisa (se você é um peão, aja como um), e me deparei com um carinha com cabelos curtos nas laterais e orelhas proeminentes, bem ao estilo militar. Ele pediu meu nome, me identifiquei e ele me entregou um envelope. Peguei o envelope, agradeci e voltei pra dentro. Abri o envelope e veio o cagasso: era uma convocação para comparecer ao batalhão de infantaria da cidade de Blumenau.


O grande problema de tudo é que eu havia prestado serviço militar nesse mesmo batalhão mais ou menos um ano antes do ocorrido, e na minha ficha estava descrito que eu falava Inglês (nível intermediário, mas numa situação dessas me parecia mais que suficiente). Eu ainda estava na reserva, ou seja, se alguma guerra explodisse eu seria um dos caras que seriam chamados pra combater.

O delicioso frango de panela de dona Fátima pareceu incomodado com a situação e queria voltar ao prato, não parava de se debater no meu estômago. Joguei o resto de comida no lixo e fui pra cama. Não precisei de esforço pra pegar no sono, o cansaço fez sua parte muito bem.

A noite, quando o resto da família chegou em casa, contei a boa nova e minha mãe só faltou chorar, enquanto meu pai falava: “Se tiver que ir, não tem jeito.”. Decidi que eu iria. Afinal, o exército americano provavelmente o melhor do mundo, se eles estavam arrecadando soldados brasileiros seria pra ajudar na segurança ou em uma missão de paz, eles não iriam nos mandar pro oriente médio.



E lá fui eu.
No fatídico dia de se apresentar no batalhão, eu percebi que várias mulheres chorosas levavam rapazes da minha idade, ou um pouco mais velhos, e estes por sua vez com a mesma cara de “putz” que eu deveria ter estampada no meu rosto. Teve uma senhora que até deu piti com um sargento e teve que ser acudida na enfermaria.

Fomos encaminhados para as devidas Companhias e enquanto estávamos formados no pátio, um tenente veio nos explicar o motivo de estarmos todos reunidos naquele dia: tudo não passava de um exercício de mobilização. Explicando, um exercício de mobilização é feito para determinar em quanto tempo o batalhão consegue reunir um efetivo que está na reserva, relembrar o treinamento e por na ativa.


Um tempo depois, quando o exercício estava quase no fim (durou somente uns 4 meses) fiquei sabendo de um dos sargentos que fazia parte da equipe que estava organizando a parada, que eles estava planejando o evento desde um ano antes do ocorrido e por azar ele acabaram enviando as convocações exatamente no dia 11 de setembro. Ele me disse que nunca recebeu tantos telefonemas de mães desesperadas pedindo para não mandarem seus queridos filhinhos para a guerra.
É muito azar mesmo hein?

E quanto à morte do Osama? Acho que foi merecida. Isso pode fazer os caras pensarem um pouquinho mais antes de fazer uma atrocidade como aquela. Pena que demorou tanto...

Um comentário:

  1. Hahaha! Já havia ouvido a história por você e sua mãe, mas acho que não tão rica de detalhes. XD
    Adorei a parte de limpar a gordura na manga da camisa, acho que porque mesmo não trabalhando em uma metalúrgica eu faço isso. lol
    Mais estressados do que os convocados, do que as mães dos mesmo só podem ter ficado os responsáveis pelo tal treinamento. Imagina o panico massivo da galera. =P
    Adorei o post.
    Concordo com tu.
    Te amo!

    ResponderExcluir

Copyright © Coisas de Humanos Urang-kurai